terça-feira, novembro 22, 2005

Lanceiros Negros

O dia 14 de novembro de 2005 marcou os 161 anos do episódio conhecido por Traição de Porongos, que foi o massacre sofrido pelos Lanceiros Negros na Revolução Farroupilha.
Os negros (escravos) eram recrutados junto aos estanceiros (seus donos), e lutavam em troca da liberdade ao final da guerra. Ficaram conhecidos por Lanceiros Negros, por causa da bravura e dos grandes serviços prestados ao exército, formando uma “tropa de choque” farroupilha.
No final da guerra, os farrapos e os imperiais se preparavam para assinar o tratado de paz (tratado do Poncho Verde), mas discordavam num ponto: a libertação dos Lanceiros Negros. Os imperiais queriam que eles voltassem à condição original de escravos.
Nesse contexto, os líderes farrapos não encontraram outra saída para a paz, senão trair os negros que arriscaram a vida pela causa abolicionista. Os farroupilhas desarmaram as tropas de Lanceiros Negros, e os imperiais atacaram-nos de surpresa, acabando com o empecilho para a paz.
Esse fato é relatado em documentos, mas não aparece nos livros de escola. E se pouco já se fala dos negros na guerra e de seu heroísmo, em quase nada se toca no assunto da ignóbil traição sofrida por eles.
Ainda hoje, há tradicionalistas que contestam o acontecido, vociferando aos quatro ventos que os historiadores são contra a cultura gaúcha e que querem macular os heróis farrapos. Mas eles só querem, isto sim, que a verdade venha à tona, para que se possa conhecer melhor o nosso passado e a nossa história.
Para atenuar um pouco da culpa e fazer uma simbólica homenagem à esses heróis anônimos da Revolução Farroupilha, uma pequena área do parque Redenção (em Poa) foi denominada de Espaço Lanceiros Negros, por proposta do vereador e historiador Raul Carrion (PC do B).
Isso foi um triste episódio da história gaúcha e um desonroso final para uma revolução que tanto nos enche de orgulho. Que não sirva esta nossa façanha de modelo a nenhuma terra.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Nizan Guanaes

Discurso do publicitário Nizan Guanaes (fundador do IG e das agências DM9 e África) na formatura da FAAP. Tenho esse texto guardado há muito tempo, e resolvi publicá-lo aqui, pois penso que serve como lição de vida para todos nós.
"Dizem que conselho só se dá a quem pede. E, se vocês me convidaram para paraninfo, sou tentado a acreditar que tenho sua licença para dar alguns.
Portanto, apesar da minha pouca autoridade para dar conselhos a quem quer que seja, aqui vão alguns, que julgo valiosos.
Não paute sua vida, nem sua carreira, pelo dinheiro. Ame seu ofício com todo coração. Persiga fazer o melhor. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como conseqüência. Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser nem um grande bandido, nem um grande canalha.
Napoleão não invadiu a Europa por dinheiro. Hitler não matou 6 milhões de judeus por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro. E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar. E tudo que fica pronto na vida foi construído antes, na alma.
A propósito disso, lembro-me uma passagem extraordinária, que descreve o diálogo entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar daqueles leprosos, disse: "Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo." E ela responde: "Eu também não, meu filho".
Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar em realizar tem trazido mais fortuna do que pensar em fortuna.
Meu segundo conselho: pense no seu País. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. Afinal é difícil viver numa nação onde a maioria morre de fome e a minoria morre de medo. O caos político gera uma queda de padrão de vida generalizada.
Os pobres vivem como bichos, e uma elite brega, sem cultura e sem refinamento, não chega viver como homens. Roubam, mas vivem uma vida digna de Odorico Paraguassu. Que era ficção, mas hoje é realidade, na pessoa de Geraldo Bulhões, Denilma e Rosângela, sua concubina.
Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito. É exatamente isso que está escrito na carta de Laudiceia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito. É preferível o erro à omissão. O fracasso, ao tédio. O escândalo, ao vazio.
Porque já vi grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso. Colabore com seu biógrafo. Faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido. Tendo consciência de que, cada homem foi feito para fazer história. Que todo homem é um milagre e traz em si uma revolução.
Que é mais do que sexo ou dinheiro. Você foi criado, para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, e caminhar sempre, com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra.
Não use Rider, não dê férias a seus pés. Não sente-se e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: eu não disse!, eu sabia! Toda família tem um tio batalhador e bem de vida. E, durante o almoço de domingo, tem que agüentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo que ele faria, se fizesse alguma coisa.
Chega dos poetas não publicados. Empresários de mesa de bar. Pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta de noite, todo sábado e domingo, mas que na segunda não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansear, não sabem perder a pose, porque não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar.
Eu digo: trabalhem, trabalhem, trabalhem. De 8 às 12, de 12 às 8 e mais se for preciso. Trabalho não mata. Ocupa o tempo. Evita o ócio, que é a morada do demônio, e constrói prodígios. O Brasil, este país de malandros e espertos, da vantagem em tudo, tem muito que aprender com aqueles trouxas dos japoneses. Porque aqueles trouxas japoneses que trabalham de sol a sol construíram, em menos de 50 anos, a 2ª maior megapotência do planeta. Enquanto nós, os espertos, construímos uma das maiores impotências do trabalho.
Trabalhe! Muitos de seus colegas dirão que você está perdendo sua vida, porque você vai trabalhar enquanto eles veraneiam. Porque você vai trabalhar, enquanto eles vão ao mesmo bar da semana anterior, conversar as mesmas conversas, mas o tempo, que é mesmo o senhor da razão, vai bendizer o fruto do seu esforço, e só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se chama sucesso."

sexta-feira, novembro 18, 2005

Ambientalismo vivo

O Dr. Ulisses Guimarães dizia que não existe nada mais velho do que jornal de ontem. Ainda assim, quero comentar uma notícia já considerada antiga, mas que para mim é de extrema relevância, e que vem sendo veiculada modestamente pela imprensa nacional. No dia 12 de novembro, o ambientalista Francisco Anselmo de Barros, conhecido como Francelmo, ateou fogo ao próprio corpo em protesto contra a aprovação do projeto de lei 170/05 do governo do Mato Grosso do Sul, que vai permitir a instalação de usinas de álcool e açúcar na Bacia do Alto Paraguai, no Pantanal. A proposta esbarra na resolução 001/85 do Conama, que suspende a concessão de licenças ambientais para usinas nas bacias que se ligam ao Pantanal. O mesmo projeto fere ainda a Lei Nacional de Recursos Hídricos (nº. 9.433/97). O ambientalista morreu 24 horas depois do ato. De acordo com especialistas, essa mudança na legislação afetará a bacia pantaneira, pois o projeto de lei contém equívocos técnicos ao afirmar que não irá trazer riscos para o Pantanal. As empresas poluiriam apenas as bordas da bacia pantaneira, mas poluentes nas bordas da bacia comprometem toda bacia, afirmas os especialistas. Francelmo tinha um histórico de lutas em defesa do meio ambiente. Foi o fundador da ONG Fundação para Conservação da Natureza de Mato Grosso do Sul (Fuconams), terceira entidade ambientalista mais antiga do Brasil, e participava ativamente de diversas outras Ong’s e entidades ambientalistas. Vivemos num país que não respeita as próprias leis que cria, e o povo, “acomodado por Deus, e pacífico por natureza”, muitas vezes não sabe para onde correr. Os políticos e grandes empresários fazem o que querem conosco, manipulando-nos como quem brinca de marionete. A lei existente (do período militar) proibindo essas usinas no pantanal visa proteger um santuário do nosso ecossistema, mas a ganância do capitalismo não vê natureza, apenas dinheiro. Que se ralem os ambientalistas, ecologistas, povo, leis. Para o capitalismo, o que vale é o dinheiro, e a capacidade de investimento para se ganhar mais dinheiro, para poder investir mais e ganhar mais dinheiro, para se investir mais e... O capitalismo tem o fim em si mesmo (e o agronegócio é um dos braços do capitalismo que mais põe dinheiro no bolso de quem investe nele), destruindo qualquer coisa que tente interferir neste ciclo predatório. O ato de Francelmo é encarado por alguns como heroísmo, por outros como loucura, e até mesmo como exibicionismo extremado. Nem heroísmo, nem loucura, muito menos exibicionismo. Foi um ato de desespero. De quem já não sabe mais para onde correr (e a quem recorrer). Ato de entrega e de amor ao máximo. “Se já não se pode viver num mundo digno, então que não se viva.” Francelmo se suicidou por amor à natureza, à Terra e à humanidade. Enfim, morreu por amor a todos nós. Morreu pela mesma causa que Che Guevara, Chico Mendes, Zumbi, Tiradentes, irmã Doroty, Jesus e muitos outros. Francelmo não é a primeira vítima do agronegócio, e infelizmente não será a última. Outras mortes vêm ocorrendo em diversas regiões do Brasil, mas sem o impacto do suicídio. Todos os anos, dezenas de pessoas morrem, em decorrência de queimadas sem nenhum controle, poluição das águas, solos contaminados, etc. A fumaça e a fuligem das queimadas castigam populações no norte e centro-oeste brasileiros. Para os grandes investidores do capitalismo, não importa se alguém morre vítima de queimadas em florestas, ou se o ecossistema está desequilibrado por causa da substituição de mata nativa por plantações de eucalipto. O ecossistema deles funciona bem, pois eles têm ar-condicionado para o calor e lareiras para o frio. E se, mesmo assim, ficarem doentes por causa da temperatura, têm médicos particulares, clínicas especializadas e hospitais à disposição. Estamos perdendo a batalha contra o vale-tudo-por-dinheiro, mas ainda podemos inverter o jogo, se cobrarmos dos governantes mais cuidado com o que não pertence a nós, mas à humanidade. Temos que tratar o meio-ambiente de maneira correta e respeitosa, pois não podemos deixar para os nossos filhos um mundo pior do que recebemos dos nossos pais. Não vamos deixar que o ato de Francelmo tenha sido em vão.

segunda-feira, novembro 14, 2005

Crianças criminosas

Essa notícia eu peguei no blog do Josias, e mostra bem a hipocrisia em que vivem os norte-americanos. Enquanto os presidentes deles mandam massacrar povos estrangeiros (vide Hiroxima e Nagasaqui, Viatnã, Afeganistão, Iraque 2X, etc.), crianças são condenadas à prisão perpétua. Reproduzo aqui o comentário na íntegra. A criança na foto é Garyl L.,15 anos, condenado à prisão perpétua nos EUA.
Crianças cumprem prisão perpétua nos EUA
Crianças podem crimes terríveis. Quando o fazem devem ser presas. Mas em condições que levem em conta as possibilidades de reabilitação. Nos EUA, porém, a punição de crianças criminosas é, muito freqüentemente, igual à imposta aos adultos. Meninos que ainda não têm pêlos no rosto são condenados a prisão perpétua. Está correto?
Finais de semana são propícios à reflexão. A discussão proposta acima é inspirada num texto divulgado no sítio do Human Rights Watch (infelizmente em língua inglesa). Informa os resultados de uma pesquisa feita em conjunto com a Anistia Internacional. O levantamento durou um ano. Descobriram-se pelo menos 2.225 prisioneiros norte-americanos condenados ao cárcere perpétuo por crimes cometidos em criança. Puxam cana em cadeias convencionais. Dividem celas com delinqüentes adultos. A comparação com o resto do mundo é eloqüente: há apenas 12 casos semelhantes.
O direito civil americano impõe limites aos menores de 18 anos. Não podem, por exemplo, casar sem autorização dos pais, votar, assinar contratos, atuar como jurados em tribunais, etc. Do ponto de vista criminal, porém, crianças são tratadas como adultos em 42 Estados norte-americanos. Em alguns Estados, a lei criminal dos adultos alcança mesmo os menores de dez anos.
A pesquisa foi demorada porque não há nos EUA estatísticas centralizadas sobre o número de crianças aprisionadas em cadeias de adultos. Foi preciso requisitar os dados a cada Estado individualmente.
Um detalhe injeta dramaticidade na cena trazida à luz pela pesquisa. As pessoas são induzidas a supor que os menores condenados a passar o resto dos dias numa prisão são predadores irrecuperáveis. Pois a pesquisa mostrou que 59% foram sentenciados em seu primeiro julgamento. Desse total, 16% tinham entre 13 e 15 anos quando condenados.
No Brasil, muitos defendem a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos e o aumento da pena de prisão para menores, hoje limitada a três anos. Sabendo-se que as Febens não primam pelo esforço em recuperar crianças delinqüentes - são, em verdade, escolas do crime - a reflexão que se propõe aqui pode ser resumida numa pergunta: Resolve? Você decide.
Pressione aqui para ver a galeria de fotos de crianças condenadas nos EUA.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Nem Nero faria melhor

O tempo está quente na capital da França, que virou Cidade-Luz, literalmente. Gangues de jovens estão incendiando carros e imóveis nos subúrbios de Paris, e as autoridades já decretaram toque de recolher, para poder conter os atos de vandalismos. Mas seriam apenas vandalismo, pura e simplesmente? A mídia brasileira não explica direito tudo isso, mas vamos tentar entender. Esses incendiários começaram a agir logo após a morte de dois adolescentes imigrantes que tentavam fugir da polícia, mas a história toda vem de muito antes. Só nos últimos seis meses, 60 pessoas já morreram (a maioria crianças) e centenas ficaram feridas em cinco incêndios em prédios de Paris. Duas características comuns nesses incêndios chamam a atenção.
Primeiro, todas as vítimas são filhos dos imigrantes provenientes de ex-colônias francesas mundo afora, e buscaram na França uma qualidade de vida que não tinham no país de origem, e que foram bem recebidos pelos franceses, pois realizavam as tarefas que o francês nato não se rebaixava para fazer. Segundo, nenhum desses incêndios começou como geralmente acontece: vazamento de gás, problema em instalação elétrica ou crianças brincando com fogo. Os incêndios nos prédios de Paris começaram nas escadas. E desde quando degrau é inflamável? Ahhh, já entendi. Eles estavam fumando nas escadas (provavelmente maconha) e, por acidente, botaram fogo no prédio. Mas como é que isso nunca tinha acontecido antes. Só houve descuido nos últimos seis meses? Não. Os jornais parisienses afirmam que em todos os casos há indícios de que a origem do fogo é criminosa.
Então é assim que funciona. O prédio é público, está em péssimas condições, mas tem boa localização. Está cheio de imigrantes, todos pobres, desempregados e famintos. Ocupam lugar nos hospitais, escolas e outros serviços, mas não cultivam a mesma cultura nem a mesma religião (enquanto a França é predominantemente católica, a maioria dos imigrantes é islâmica). Esses franceses estragam a paisagem e cometem pequenos delitos. De repente, como num passe de mágica, faz-se a luz. Os prédios começaram a pegar fogo. Que coincidência, não?
Então tais imigrantes fazem manifestações por melhores condições de moradia e são reprimidos. Depois, os dois adolescentes morrem. A queima de carros e os saques estão sendo atos de revolta causado pela baixa qualidade de vida, miséria, desemprego, prostituição.
Agora, a elite francesa se pergunta, perplexa, “de onde saio essa gente?” “Eles já estavam aí ontem?” Sim, já estavam. Mas acontece que esses milhões de imigrantes são invisíveis quando vistos do topo da pirâmide, pois não freqüentam clubes, universidades e shopping. São cidadãos franceses (africanos, asiáticos, latinos, feios, árabes e outras coisas), mas não fazem parte do “liberté, igalité, fraternité”. O povo francês está preste a derrubar a Bastilha de novo, e a guilhotinar aqueles que os excluem. Os protestos já chegaram à Alemanha, Bélgica e Espanha. No Brasil ainda se queimam mendigos. Chegará o dia em que mendigos atearão fogo em nós. Isso é resultado da opressão, exploração e exclusão social.

domingo, novembro 06, 2005

51ª Feira do Livro de Porto Alegre

Já está a pleno vapor, desde o dia 28 de outubro, a Feira do Livro de Porto Alegre. Vale a pena visitar, pois é uma das poucas oportunidade que se tem de conferir novos lançamentos e de se pesquisar preços. Quase todas as livrarias de Porto Alegre estão com 20 % de desconto, mesmo fora da feira, mas mesmo assim a leitura ainda é um hábito caro no Brasil. Bons livros estão variando de R$40,00 a R$100,00. Do jeito que a crise atinge a todos, só nos resta passear pela praça da alfândega, que por sinal está muito bonita, e visitar os estandes. Outra opção é chafurdar nas caixas de saldo das barracas, onde se encontra livros com preços bem acessíveis.
Este ano a feira apresenta uma novidade. Ela foi estendida até o cais do porto, onde funciona a Área Infantil e Juvenil. Com isso, além da gente aproximar a gurizada da cultura, podemos dar uma bela passeada pelo cais, apreciando o Guaíba.
O horário da feira é das 13h até as 21h. Na área Infantil e Juvenil, e por causa das visitas das escolas, as atividades começam a partir das 10h. Existem diversas palestras, oficinas, fóruns e debates em que se pode participar. Quem tiver tempo, deve aproveitar essas oportunidades, pois valem a pena. A feira vai até o dia 15 de novembro.
Neste ano, o país homenageado é a Itália, o estado convidado é o Ceará e o patrono da feira é o frei Frei Rovílio Costa, de Veranópolis.
Histórico – Tudo começou em 1955, quando 15 barracas de livros tomaram conta da Praça da Alfândega e iniciaram a história da Feira do Livro de Porto Alegre. A Feira é uma das mais antigas do País. Seu idealizador foi o jornalista Say Marques, inspirado por uma feira que visitara no Rio de Janeiro. O objetivo era popularizar o livro, oferecendo descontos atrativos. Na época, mais do que hoje, as livrarias eram consideradas elitistas. Por esse motivo, o lema dos fundadores da primeira Feira do Livro foi: se o povo não vem à livraria, vamos levar a livraria ao povo. A Praça da Alfândega foi escolhida por ser um local muito movimentado na Porto Alegre dos anos 50, que tinha 400 mil habitantes.
Pois é, aproveitem o passeio, a vista para o Guaíba, a sombra dos jacarandás e façam boas compras. Com sorte (?), da até para pegar uma dedicatória do autor. Se quiserem informações mais detalhadas sobre a feira, acessem o site da feira.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Título do blog

O título deste blog foi inspirado no artigo de Rubem Alves, publicado na Folha de São Paulo, no caderno Tendências e Debates, em 19 de maio de 2000, que reproduzo abaixo.

Sobre política e Jardinagem

"Escrevo para vocês, jovens,
para seduzi-los à vocação política.
Talvez haja jardineiros
adormecidos dentro de vocês."

De todas as vocações, a política é a mais nobre. Vocação, do latim vocare, quer dizer chamado. Vocação é um chamado interior de amor: chamado de amor por um ‘fazer’. No lugar desse ‘fazer’ o vocacionado quer ‘fazer amor’ com o mundo. Psicologia de amante: faria, mesmo que não ganhasse nada. ‘Política’ vem de polis, cidade. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. O político seria aquele que cuidaria desse espaço. A vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos moradores da cidade.
Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades: sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oásis. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu ‘o que é política?’, ele nos responderia, ‘a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas’. O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim.
Amo a minha vocação, que é escrever. Literatura é uma vocação bela e fraca. O escritor tem amor, mas não tem poder. Mas o político tem. Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada: bastar-lhes-ia o grande jardim para todos. Seria indigno que o jardineiro tivesse um espaço privilegiado, melhor e diferente do espaço ocupado por todos. Conheci e conheço muitos políticos por vocação. Sua vida foi e continua a ser um motivo de esperança.
Vocação é diferente de profissão. Na vocação a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão o prazer se encontra não na ação. O prazer está no ganho que dela se deriva. O homem movido pela vocação é um amante. Faz amor com a amada pela alegria de fazer amor. O profissional não ama a mulher. Ele ama o dinheiro que recebe dela. É um gigolô.
Todas as vocações podem ser transformadas em profissões. O jardineiro por vocação ama o jardim de todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, ao seu redor aumente o deserto e o sofrimento. Assim é a política. São muitos os políticos profissionais. Posso, então, enunciar minha segunda tese: de todas as profissões, a profissão política é a mais vil. O que explica o desencanto total do povo, em relação à política. Guimarães Rosa, perguntado por Günter Lorenz se ele se considerava político, respondeu: ‘Eu jamais poderia ser político com toda essa charlatanice da realidade...’. Ao contrário dos ‘legítimos’ políticos, acredito no homem e lhe desejo um futuro. O político pensa apenas em minutos. Sou escritor e penso em eternidades. Eu penso na ressurreição do homem. Quem pensa em minutos não tem paciência para plantar árvores. Uma árvore leva muitos anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las.
Nosso futuro depende dessa luta entre políticos por vocação e políticos por profissão. O triste é que muitos que sentem o chamado da política não têm coragem de atendê-lo, por medo da vergonha de serem confundidos com gigolôs e de terem de conviver com gigolôs.
Escrevo para vocês, jovens, para seduzi-los à vocação política. Talvez haja jardineiros adormecidos dentro de vocês. A escuta da vocação é difícil, porque ela é perturbada pela gritaria das escolhas esperadas, normais, medicina, engenharia, computação, direito, ciência. Todas elas, legítimas, se forem vocação. Mas todas elas afunilantes: vão colocá-los num pequeno canto do jardim, muito distante do lugar onde o destino do jardim é decidido. Não seria muito mais fascinante participar dos destinos do jardim?
Acabamos de celebrar os 500 anos do descobrimento do Brasil. Os descobridores, ao chegar, não encontraram um jardim. Encontraram uma selva. Selva não é jardim. Selvas são cruéis e insensíveis, indiferentes ao sofrimento e à morte. Uma selva é uma parte da natureza ainda não tocada pela mão do homem. Aquela selva poderia ter sido transformada num jardim. Não foi. Os que sobre ela agiram não eram jardineiros. Eram lenhadores e madeireiros. E foi assim que a selva, que poderia ter se tornado jardim para a felicidade de todos, foi sendo transformada em desertos salpicados de luxuriantes jardins privados onde uns poucos encontram vida e prazer.
Há descobrimentos de origens. Mais belos são os descobrimentos de destinos. Talvez, então, se os políticos por vocação se apossarem do jardim, poderemos começar a traçar um novo destino. Então, ao invés de desertos e jardins privados, teremos um grande jardim para todos, obra de homens que tiveram o amor e a paciência de plantar árvores à cuja sombra nunca se assentariam.

terça-feira, novembro 01, 2005

Liberdade de expressão

Nada mudou desde a velha china comunista. Palavras como "democracia", "liberdade", "direitos humanos", "comunismo", "socialismo", "capitalismo", "independência de Taiwan", são censuradas nos sites, blogs e e-mails chineses. Essa censura resulta de uma colaboração entre a Microsoft e as autoridades de lá. As restrições estão incluídas no MSN Space, um serviço de blogs lançado na China, por uma empresa da qual a Microsoft detém 50 % do capital. Um porta-voz da empresa americana disse que “as restrições são o preço que a companhia tem de pagar para espalhar os benefícios dos blogs e das mensagens on-line”.
Essa censura não se dá só na web, mas em todos os tipos de mídias.
Na China não são respeitados os direitos políticos, sociais e trabalhistas. Na verdade, não se respeita direito algum, e ainda tem gente que a vê como modelo de gestão pública para o Brasil. Gente que brilham os olhos quando vêem notícias do crescimento (a qualquer custo) dos “tigres asiáticos”. A China não é modelo, nem para nós, nem para ninguém. Quero que o Brasil cresça, e muito, mas não à custa do desrespeito ao trabalhador e ao cidadão.