terça-feira, outubro 17, 2006

Aulinha de Direito

Aula de Direito. O professor chega meia-hora atrasado, como de costume, mas não pede desculpas. Diz que só não chega atrasado quem não tem nada para fazer, e que ele exerce funções relevantes na comunidade gaúcha e brasileira, fazendo parte de associação profissional, associação de classe, diretoria de partido político, diretoria de empresa, além de se divertir dando aula.

(O ator Antônio Fagundes disse certa vez que nunca deixa ninguém esperando, pois fazer esperar é uma prerrogativa do poder e, segundo ele, um homem não deve ter poder sobre outro. Frescuras de artista.)

Voltando à aula, eu noto um adesivo enorme na pasta do professor, com os números 45 em destaque, e os nomes de Geraldo e Yeda. Segue-se o seguinte diálogo:

Eu: - Gostei disso, professor. Do adesivo.
Prof.: - Acontece que tu és um aluno diferenciado, que se preocupa com o futuro teu país.
Eu: - Eu quis dizer que gostei de ver que o sr. assume publicamente um candidato, coisa rara na universidade, mas discordo da sua corrente política.
Prof.: - Pensando bem, talvez tu não sejas tão diferenciado assim.
(Risos da turma)
Eu: - De qualquer forma, é bom ver alguém saindo de cima do muro, nem que seja para cair pro lado errado.
Prof.: - Mas quem me conhece sabe que eu nunca estive em cima do muro. Há muito tempo que eu luto por um Brasil mais moderno e desenvolvido. Veja a Alemanha, por exemplo, ...

Daí começa um discurso que dura aproximadamente 40 minutos, de onde tirei algumas pérolas:

“O Estado não tem que se preocupar com quem não paga imposto, pois são parasitas, carrapatos que sugam do Estado, utilizando escolas, hospitais, transporte, energia elétrica e não contribuem com nada. (...) Não precisamos matar esses inços pois eles se matam sozinhos, bebendo, se drogando, espalhando doenças como quem distribui doces.”

“O Estado vive do tributo, por isso ele deve trabalhar pra quem gera tributo.”

“Se não existissem empresas públicas, escolas estaduais, postinhos de saúde, os tributos seriam mais baratos para a população, que teria seu nível de vida elevado.”

“Grandes empresas não precisam pagar imposto, pois geram empregos. Elas já fazem um bem ao estado, não precisam fazer outro.”

“O Banrisul e a Corsan já deveriam ter sido privatizados há muito tempo. Só não se diz isso por que a população não entende que uma empresa particular possa oferecer serviços de qualidade por um valor acessível. Jornalistas também não entendem nada de administração pública e só falam besteiras. Por isso é que não se pode assumir a modernização dos serviços públicos assim, em época de eleição.”

No final eu entendi por que o exemplo da Alemanha. Adolf Hitler deve ter medo de esbarrar com esse cara no inferno.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Fala véio. Eu tava na aula e me impressionei com a cambada de puxa sacos que concordavam com ele. Esse é o nosso país. Ainda vou votar na yeda, mas se for verdade que ele disse que presta consultas para ela, daí eu não voto.
Até a aula que vem.

18.10.06  

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